Um novo negócio antigo

Eu não costumo assistir séries ou filmes sobre prostituição. É mais ou menos como imagino que sente-se, por exemplo, um médico assistindo House - como entretenimento parece válido, embora fique bem distante do que pode se chamar de real. Mas estreou ontem a tão anunciada minissérie "O Negócio", e eu estava em casa. Perto da TV. Fazendo nada e tuitando. Assisti. O primeiro capítulo até que me surpreendeu positivamente.

 

 Embora eu tenha lido em alguns blogs a promessa de "dicas de marketing", digo: neste sentido, nada vi ali de inovador.. Um cliente comenta com as moças sobre a ausência de estratégia de marketing de uma lanchonete, a mais "antenada" delas se dá conta de que pode aplicar isso ao seu trabalho, e paramos por aí. O mito da puta marketeira... Algumas frases feitas - e verdadeiras - sobre o assunto, nada mais. Mas marketing realmente não é minha área, sigamos em frente...

Tinha receio de que a série tratasse apenas de prostitutas de luxo, dessas que vemos em matérias sensacionalistas, das que cobram dois ou três mil por hora de programa e pagam mais de trezentos reais por almoço. Bom, essas histórias estão longe de me interessar - eu quero é a vida real, o lugar comum, o palpável. E neste sentido vamos bem.
A série começa contando sobre uma belíssima e agradável acompanhante que chega àquela fase em que começa a ser rejeitada pelo agente para alguns trabalhos. Inteligente e focada, ela decide procurar seu próprio caminho. Com a ajuda de uma amiga, conhece uma boate e percebe que tem tino para "o negócio".

 

Acredito que, para os próximos capítulos, tenhamos lições de empoderamento e cooperação, já que as duas amigas devem atuar juntas, com o apoio de uma terceira. Provavelmente eu não assista (não sou fã de TV, não tenho disciplina para acompanhar novelas ou séries e, se não me engano, minha assinatura da NET nem sempre me dá acesso aos canais HBO), mas foi o que o primeiro capítulo me indicou.

Detalhe interessante: o diretor conta que, para montar as personagens, as atrizes não fizeram oficinas em pontos tradicionais de prostituição de São Paulo, mas em bons restaurantes da cidade. Como venho dizendo faz tempo: nós estamos em todos os lugares. A "puta-clichê", brega e escandalosa, apresentada em muitas novelas e filmes, já não nos representa, e nossa atitude nem sempre nos denuncia. Vestimos bem, falamos corretamente, nos portamos como pessoas normais - o que, aliás, até somos. Podemos ser vistas em academias, faculdades, shoppings.. Enfim, parece que nosso comportamento em pouco difere do comportamento das mulheres que não cobram por sexo. Quem sabe não podes até encontrar algumas de nós num destes "cursos pra arrumar um bom partido" (risos)?

Outra coisa que me chamou a atenção na série e que vem se tornando já há algum tempo bastante real, é isso de a maioria dos agentes, cafetões, bookers (e donos de sites de anúncios) serem homens. Aliás, a série mostra APENAS agenciadores homens. É como se nós, mulheres prostitutas, não pudéssemos, não nos sentíssemos capazes, de assumir papel e voz ativa no comando de nossas vidas e "carreiras", para além das camas de motéis e flats. E por quê?
Se a série trouxer à tona apenas esta questão crucial já terá sido de grande valia assisti-la.. Aproveitem.

 

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